Come home 'cause i've been waiting for you for so long

Segunda feira de manhã. Decidiu imendar o final de semana e ali estava sentada na banqueta alta de sua cozinha com um pote de morangos bem vermelhos e vivos com um tubo de leite condensado bem cheio. Sua mãe odiava quando ela fazia isso e repetia constantemente que se ela continuasse assim, logo menos estaria pronta para rolar uma ladeira na diagonal, na horizontal e na vertical, mas que se danasse, ela morava sozinha agora, tinha direito à escolher o que bem queria comer. 
Na verdade, o que ela mais preza em morar sozinha naquele apartamento de um dormitório e em passar quase o dia todo fora sendo que 95% das pessoas são completas desconhecidas é que agora ela não tinha mais que ouvir pessoas lhe observando e lhe perguntando "Como pode comer isso? Irá engordar menina!" Ela detestava isso mais que qualquer coisa, mas agora nem tinha tempo para concentrar-se nisso e era uma grande realização de sua vida.
O apartamento no 10º andar tinha uma visão bem bonita e era possível ver toda a avenida através da janela, que quando o Sol batia e ela via seu reflexo no vidro, se lembrava do que era até três anos antes, até os seus 18 anos e meio, antes de renegar tudo que estava à sua volta e decidir desaparecer da existência de todos com quem estudava e de parte de sua família. Apenas seu pai e seus avós paternos sabiam de seu paradeiro e do que faziam. Sua mãe ela tinha decidido nunca mais querer notícias e a outra parte da família nunca lhe aceitara bem. Espantou as lembranças e espetou o garfo em um dos morangos cobertos pelo leite condensado, se olhou na janela outra vez e passou os dedos por uma mecha larga de cabelo. Era ruiva e decidiu ser morena. Tinha olhos claros que reforçava com maquiagem até parecerem escuros e adorava os piercings e tatuagens. A pele branquíssima das costas estava coberta por um enorme dragão colorido adornado de nuvens e os tornozelos estavam quase cobertos de tinta colorida também. O rosto tinha alguns adereços metálicos, mas nada que não fosse possível esconder.... 
Tinha mudado tanto naquele tempo que se passou, desde que saiu de casa. Talvez tenha amadurecido, tavez ainda estivesse engolindo o que era realmente ser "adulta" e talvez ainda fosse aquela mesma menininha indefesa que era na época que seus pais se separaram. Tinha 21 anos mas ainda não tinha certeza de nada, não tinha certeza do que queria, nem do que faria. 
Naquela hora, sentada na poltrona e olhando a janela, ignorando o próprio reflexo e se concentrando nos vários transeuntes que passavam ali em baixo enquanto devorava seus morangos com leite condensado, ela decidiu: iria voltar para casa. Pelo menos por um tempo, para saber o que vinha se tornando naquele tempo sozinha, pois ela não estava sendo capaz de descobrir isso sozinha...

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