Velho violinista

Aquele velho homem de terno e chapéu que tocava violino todas as tardes na rua esquina da praça tinha história. Nunca fiquei sabendo qual era a historia dele mas sempre soube que aquele cara tinha história. 
Não era pobre, com certeza não. Sempre estava bem vestido, perfumado que você sentia de longe, com o paletó cinza sempre esticado e o chapéu sempre limpo e arrumado no alto de sua careca contornada de cabelos bem brancos e em fiapos. Não tinha barba e a sobrancelha era bagunçada e bem branca. Nunca descobri a cor de seus olhos, ele sempre olhava o violino em seu braço, deixando-os para baixo e dificultando minha vista e eu não sabia que horas ele chegava e muito menos que horas saía de lá. Sabia apenas que quando eu saía de casa em direção ao trabalho ele já estava lá, tocando melodias suaves e na hora que eu voltava ele ainda estava lá, tocando melodias mais agitadas. Acho que até ligou um amplificador uma vez ao violino e variou e claro, que seus trocados aumentaram naquele dia porque todos que passavam paravam para observar o homem que tocava violino com som de guitarra e agora toda quarta feira algum jovem músico que passa por lá lhe empresta um amplificador para que ele toque. E uma vez um punk decidiu tocar com esse senhor. O punk ligou sua guitarra e o velho pegou seu violino e passaram a tarde tocando e eu fiquei ali assistindo, era sexta feira e eu tinha pego uma folga. 
Sempre de segunda a sexta ali está ele. Encosta numa loja que agora é eternamente fechada e põe a capa de seu violino aberta e ali se acumulam os trocados. Imagino se ele tem esposa, se tem filhos, se tem contato com seus parentes, se tem sonhos de se tornar um famoso musicista, se um dia foi musicista.... Tantas coisas que podem haver na história daquele senhor e eu não sei. Talvez eu nem deva saber mesmo, mas ainda sim, ele será eternamente o Violinista-da-praça-que-eu-sempre-imaginei-a-história mas que eu nunca consegui descobrir qual era....

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