School is out and there's nothing more to say

Encarou o próprio reflexo no espelho, afrouxando de leve a gravata e ajeitando o suspensório, sorriu, mas logo depois fez uma careta e revirou os olhos ao lembrar-se que passou uma boa parte da manhã na diretoria porque estava de calça e não de saia como o uniforme exigia. Baboseira completa, com certeza. A maquiagem estava  mais clara do que o comum mas os olhos ainda eram bem marcados por lápis e rímel preto, mas desta vez tinha sombra rosal. Estranho, talvez? Os dentes brancos e meio tortinhos se alinhando com a careta que ela fazia ao imitar a expressão "estúpida" da diretora que lhe repreendia sempre devido à maquiagem forte e as pulseiras e colares de influências punks e metaleiras. 

Se lembrava perfeitamente do dia em que conversava com os garotos menos "boa influência" no intervalo e subiu em cima de uma mesa para cantar We are the Champions com os amigos, que batiam na mesa no ritmo da música, apenas para provocar a diretoria e obviamente, detenção após a aula. Se lembrava melhor ainda do dia que decidiu jogar refrigerante no cabelo de uma das patricinhas que estava reclamando de seu cabelo castanho com mechas loiras e consequentemente foi uma outra vez para a detenção. Se lembrava também do dia em que seus amigos estavam dizendo que o garoto mais popular de todo o colégio tinha medo dela porque ela vivia infernizando a vida das patricinhas que um dia lhe fizeram se sentir um lixo, e ela riu do fato. Melhor ainda era a lembrança de quando tentaram lhe dar flores e cartões no dia dos namorados para tentar provocá-la e quando ela descobriu colocou uma caixa de bombons com um boneco que soltava um cheiro absurdamente desagradável quando apertado dentro do armário do garoto que vinha encabeçando o plano inteiro e ele teve que passar quase um dia inteiro tomando banho para ver se o cheiro saía...  

Tinha tantas lembranças daquela escola. Muitas ruins e muitas engraçadas com certeza, mas aquelas lembranças permaneceriam em sua mente por tempo indeterminado porque saber que aquilo tudo se passou, lhe faz um bem interno muito grande. Sua mãe detestava o fato de que ela estava sempre na detenção e vivia reclamando como poderia pagar um colégio tão caro e tão bom, em um país onde a maioria das pessoas estudava em colégios públicos, para ela se ela passava mais tempo na detenção e na diretoria do que na sala de aula estudando, apesar de suas notas serem inquestionavelmente boas e altas. Seu pai? De que a opinião dele lhe valia? Morava em outro estado e quase não ligava, apenas ajudava a pagar seu colégio e nada mais...

Enquanto refletia consigo mesma suas lembranças e arrumava seu piercing no septo para fora do nariz, uma de suas piores "inimigas" entrou no banheiro sorrindo e logo veio com alguma piadinha estúpida e desnecessária enquanto arrumava a própria saia que parecia nunca ficar muito tempo no lugar certo, diferentemente de muitas alunas daquela instituição. A garota  dos cabelos castanhos simplesmente sorriu contente, cerrou o punho e fez uma séria ameaça em acertar o rostinho perfeitamente arrumado da outra, que se encolheu toda ao ver o punho da morena vir em sua direção. 

A última abaixou a mão e riu do terror da outra, saindo do banheiro despreocupadamente com a mochila no ombro, comemorando porque por mais que tivesse passado quase toda a manhã na diretoria, era seu último dia de colégio, para sempre....