But are friends in back so let's raise a cup

E todo dia era uma batalha. A terceira guerra travada contra o espelho. O estopim? Nunca estava bom, nunca era bom, nunca será bom o suficiente.  Prendia os longos cabelos cobre no alto da cabeça para que eles não lhe atrapalhassem a visão de seu próprio corpo e sempre se sentia mal ao vê-lo. Os ombros sentia que eram muito largos, os seios muito desproporcionais aos ombros, as costelas muito distantes dos dedos sempre que as apertava, havia muitas dobras, muitas curvas em lugares onde não deveriam haver curvas... Era tudo tão errado todas as vezes que olhava sua própria imagem no espelho. E a motivação de ir à academia mais uma vez não lhe fazia companhia porque da última vez não teve sucesso nisso e agora sempre que encarava o espelho lembrava-se de cenas de vários conhecidos dizendo que ela nunca seria tão linda quanto suas amigas eram. Que ela era só mais uma pessoa por ali e que não tinha o encanto que suas amigas e conhecidas tinham e ela simplesmente engolia, fingia que não era com ela e quando chegava em casa se trancava no quarto com um generoso pedaço de bolo e meia barra de chocolate com um copo de refrigerante e chorava ouvindo músicas mais agitadas e que abafavam o choro, chorava sentindo-se um lixo enquanto comia o bolo e o chocolate e tomava o refrigerante -- preferencialmente do tipo mais gasoso o possível -- e por alguns instantes sentia-se um pouco melhor. E sempre que alguém lhe perguntava como ela se sentia, ela respondia que "Tudo bem" com um sorriso singelo e fingidamente sincero no rosto. O ápice que lhe fez parar com os longos choros foi no dia que se viu comendo seguidamente cinco donuts cobertos e recheados com chocolate e então sentiu que deveria parar por ter atingido um ponto extremamente patético de sua existência.
Parou de comer qualquer "tranqueira" que comesse anteriormente e por mais difícil que tivesse sido no começo, conseguiu se reeducar e quando sentia vontade de comer doce, comia algo saudável e em alguns poucos meses já se era notável uma grande mudança visual nela. Ela passava e todos reparavam, ela estava mais radiante e bonita que anteriormente. E em um dia qualquer, que teoricamente deveria ser como qualquer outro, sua amiga lhe levou para um luau na praia com alguns amigos que ela não conhecia.
Sentaram-se todos em roda e a garota dos cabelos acobreados ficou um pouco atrás, mas logo uma garota que ela nunca tinha visto lhe puxou pela mão e a levou para seu lado na roda e vendo a fogueira que estava no centro queimar cantaram:

Tonight
We are young
So let's set the world on fire
We can burn brighter
than the sun

Econtinuaram e continuaram. Mas a garota sabia que nunca tinha se sentido tão bem quanto naquela hora. Não conseguia se lembrar de um dia de sua vida que tivesse sido tão feliz e tão inclusa como naquele momento ao redor da fogueira em que as faíscas se alastravam pelo pôr-do-sol róseo. Exatamente como ela nunca havia imaginado que um dia seria....

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