She's everything i'm not

E ficou deitada ali por várias horas, zapeando canais em busca de algo que não fosse tão melancólico ou muito cômico para o momento que encarava agora. Tinha que ser um meio termo, tinha que ser meio a meio. Nem muito melancólico, nem muito romântico e estava começando a achar que não havia nada dignamente bom para seu estado atual de espírito. Respirou fundo e puxou a coberta de micro-fibra roxa mais para cima, agora se encontrando deitada atravessada no sofá com a cabeça na almofada gorda que ficava de decoração ali. 
Era garantia de que estava bem diferente do "normal".
O cabelo estava bagunçado e ainda estava escurecendo e ela já estava com sua enorme camisola de cachorros, uma das mais antigas que possuia... A jovem impecável que trabalhava em uma das mais famosas avenidas da cidade naquele momento era quase o sinônimo de desleixo. Nem ao menos estava se reconhecendo. Não era do fietio dela ficar inteliz devido à um fim de relacionamento, mas bem, ela estava infeliz e podia jurar que a única coisa que lhe faltava para que a cena em que se encontrava fosse o cúmulo do patético era a maquiagem derretida e o choro inconsolável enquanto via melodramas românticos na TV. Era o cúmulo do patético mas ela sabia que não faltava muito para que ela se arremessasse de cabeça nessa situação completamente patética. Levantou-se calmamente e foi até o banheiro, encarando-se longamente no espelho para ver a gravidade do seu estado atual.
Era seu noivo e ela o amava, mas será que ele merecia tanto? Será que ele merecia algum sofrimento seu sequer? 
Ele nunca fazia esforços para chegar em casa quando combinavam e a única vez que ela tinha decidido fazer um jantar especial, no dia do próprio aniversário, ele tinha decidido de última hora que iria sair para beber com os amigos e quando era de madrugada ele decidiu voltar -- bêbado -- sem a chave querendo que ela abrisse a porta para ele. Isso porque uma vez ela disse que odiava bêbados, consequentemente ele passou a noite dormindo do lado de fora... Essa cena e mais algumas várias que se seguiram em flashbacks em sua mente, fizeram-na olhar outra vez no espelho, após ter abaixado a cabeça, e pensar que realmente ele não merecia tudo isso, ele não merecia que ela se magoasse tanto assim por tão pouco. Ela havia subido na vida sozinha, tivera alguns momentos de apoio de suas melhores amigas que vinham lhe acompanhando desde o tempo de colégio... Não entraria em uma cena completamente patética por causa disso, não abaixaria a cabeça por tão pouco.
Ligou para sua melhor amiga e pediu para que ela arrumasse um programa pras duas e bem, em segundos ela já havia achado um barzinho que teria um show acústico ao vivo de uma banda bem desconhecida da região. Sorriu e se arrumou, voltou a ser aquela pessoa impecável que todos conheciam mas logo viu que o destino adora pregar peças nas pessoas quando estas menos esperam. Ouviu tocarem a campainha e logo foi ver quem era. Era o carteiro com um tipo de carregador de animais vermelho. um bilhete e um documento de entrega para ser assinado. A moça assinou e olhou o bilhete ao entrar dentro de casa com o carregador na mão "Espero que isso possa te animar, já tem uns dias que não te vejo radiante da mesma maneira que costumava ser antes. Me disseram que você ama essas criaturinhas. Abraços, ..."
Abriu o carregador e viu: dois olhos verdes redondos e piscantes e uma pelagem mista de preto e branco estavam ali dentro, todo encolhido. Era um gato, um filhotinho. Sorriu e reconheceu a inicial e só havia uma pessoa com aquela inicial que poderia ter lhe enviado aquele presentinho no intuito de animá-la. 
Um de seus amigos mais antigos de escola, um de seus melhores amigos....

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