See you soon my lady...

 Sentada no topo da cruz de alguma lápide qualquer e abandonada sempre com a cartola inteira e as asas rasgadas e desfeitas, caindo aos pedaços, recolhidas observava o movimento no cemitério. Fantasmas dançavam, brincavam, corriam e riam ignorando que estavam mortos. Zoombies se socavam mas riam tontos depois lembrando que não sentiam dor e que os socos e pontapés não lhes surtiam efeito porque já estavam mortos. Sempre achou zoombies muito idiotas, em maioria tinham a tampa do cérebro perdida e acreditava que isso lhes tornava tão idiotas e bobões. Frankstein rodava com sua noiva, tão românticamente apaixonados que para os mais frios e reclamões como o esqueleto de asas e cartola quase lhe causava desgosto. Gostaria de poder vomitar por coisas românticas mas não tinha órgãos para tal feito então ficava só na repugnância psicológica mesmo. Fantasmas eram criaturas legais até, tinham situações bem variadas e agiam quase como vivos, isso dava uma graça bem nova à eles e só os fantasmas mais novos que eram um saco: se lamentavam o tempo todo e os mais legais eram os que conseguiam admitir que estavam mortos, mas esses nunca duravam muito tempo ali nas noites do cemitério, iam para o céu ou para o inferno em pouco tempo...
Mas a graça do cemitério durante as noites era aquele outro esqueleto. Haviam exatamente 900  mortos ali todas as noites e 20 esqueletos, sendo apenas ele com asas. Nem lembrava direito porque as tinha, mas sabia que as tinha desde que estava ali e todas as noites sentava no topo de alguma cruz e observava os mortos até o momento em que encontrasse aquela criatura incrível de vestidos rasgados, educação exemplar e gênio inédito que habitava a maior lápide de todo aquele lugar. Era uma esqueleto linda de 500 d.C., bem conservada devido aos polimentos que recebia do mais novo membro da família que fazia questão de conservar aquele esqueleto de maneira impecável, da mesma maneira que as outras centenas de esqueletos também...
Queria algo, mas por todas as noites sentava-se na cruz e contava histórias aos mais novos, que desejavam loucamente ouvir os contos daquele tão incomum habitante do cemitério que quando a madrugada terminava, as casas desapareciam e ele se tornava um monte de ossos com uma cartola por cima. Mas sabia, seu objeto de desejo era um amor impossível que nunca seria concretizado. 
Então simplesmente erguia a cartola e dizia "Vejo-lhe em breve doce senhorita..."

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