Não deixei de achar graça nas coisas...

Voa criança. Voa até onde puder. Cresceu tanto que nem mais se reconhece mais, cresceu tanto que em tão pouco tempo já virou adulta formada. O tempo passa bem rápido não acha? Há tão pouco tempo você ainda vivia na saia de tua mãe e agora no caminho do trabalho vai escondendo os piercings e as mechas coloridas de teu cabelo. Isso que digo que é um grande avanço, um grande crescimento na vida de alguém tão jovem. Mas o que te tornou assim, jovem criança? Ainda manténs a alma infantil e pura, mas esta criança que ainda habita ai está protegida com uma casca absurdamente grossa e resistente de maturidade e dureza; o que houve para tal? Foi de tanto te cortarem? De tanto apararem o que tu queria ser? Foi isso mesmo?
Pena meu amor, não podia ter deixado. Justo que a maturidade crescesse conforme os anos que se passaram, que nem parecem tantos assim de quem viu-te crescer durante todo esse tempo, 24 anos e meio passaram voando e isso é fato, mas nada diz que terias que ter esquecido do que era amar voar. Lembra-te que quando era criança, até seus mais ou menos 10 anos, queria ser um pássaro? Acho que nem está se lembrando mais não é? Mas ainda me lembro. Nunca ouviu aquela frase de que é difícil não lembrar do que nunca se esqueceu? Pois bem, estas somos nós. Te vi crescer por tanto tempo e agora tu é essa mulher feita, é essa adulta que todas as crianças um dia querem ser. Vive bem e tem um bom modo de vida, mas pergunto-te: ainda existe espaço nesse teu coração? Não, pergunto melhor: ainda existe um coração ai? Ou ele já morreu também?
Pergunto-te isso porque há quanto tempo tu não fazes nada puramente por amor? Há quanto tempo não sente que há um pouco de dureza de mais ai dentro de ti? Há quanto tempo não sente que há algo vazio em ti? Que por mais que ria e sorria as vezes, ainda pensa que és raro de mais para tudo o que poderia rir? Para tudo o que poderia sorrir?Há quanto tempo não se pega pensando como pensava quando criança, que é um pássaro, que é um pássaro daqueles que voam soltos por ai, que atravessam tempos, temperaturas e estações em um reduto de criatividade imenso?
Lembro que na tua mente tinha histórias para o inverno, para o outono, para a primavera e até para o verão que você odiava. Me pego rindo dessas lembranças e me questiono se tu ainda se lembra disso, se tu ainda se lembra que teve todos esses momentos. E não diga, depois de tudo isso que eu acabei de falar, que você foi fazer as mechas e os piercings por paixão. Conheço-te, fez por desafio. Sempre adorou desafiar quem estava acima de ti, sempre adorou provar que podia tudo. E nunca houve discórdia porque todos que te conheceram bem, sabiam que poderia chegar aonde quisesse, que poderia conseguir tudo, que antes de morrer teria conseguido tudo o que almejou conquistar. Mas agora pense, será que não é hora de buscar algo que você precise, não algo que você queira? Será que não é hora de buscar algo que você ainda não saiba que quer mas que precise? Será que não é hora de voar outra vez criança? Não é hora de tentar ser livre outra vez?

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