Ich find mich hier nicht wieder erkenn mich selbst nicht mehr


Respirou fundo e engoliu em seco. Passou a mão pelos cabelos tingidos de negro, jogando-os para trás para que não caíssem sobre o olho verde fortemente maquiado. Estava sem mary-jane,pó, sem uma gota de álcool sequer no sangue(...) não havia nada e ela não tinha como se entupir correndo de chocolates Jack Daniel’s e bombons de licor para que não sentisse a pressão. O empresário já havia tentado lhe acalmar, seu guitarrista e melhor amigo também mas nada. Não estava acostumada a ter de fazer shows sóbria e possivelmente era o primeiro show, desde que parou de se apresentar nos festivais e shows de talentos do colégio, que fazia sóbria. Seus pais e seu irmãozinho decidiram assistir esse show e seu pai lhe fez a restrição de que ela não deveria usar nada. Que deveria estar completamente sóbria antes do show.Naquela hora a ressaca não importava nem um pouco por mais forte que estivesse. Tinha errado, foi em uma festa até altas horas da noite, bebeu muitos copos de muitas coisas que ela não sabia o que era e quando eram 13h acordou com o celular tocando no quarto de um hotelzinho barato nua enrolada em lençóis com um desconhecido supostamente bonitinho à seu lado. Não fazia a mínima ideia se o cara tinha condições de pagar o hotel, mas arrumou-se correndo e foi embora. A cabeça completamente latejante e as pálpebras pesando a fizeram pegar um taxi até o hotel onde estava hospedada com sua banda. Não sabia que roupa iria usar para o show e tinha de se encontrar com os companheiros e com uma stylist que tinham arrumado e ela estava atrasada para isto...
Agora estava lá. Com as mãos na cabeça, bebendo água compulsivamente enquanto chupava drops de menta extra-forte que pareciam lhe aliviar levemente o estresse. Não podia nem conseguia dormir, não podia sair dali, não podia fazer nada além de aguardar pacientemente o início do show que poderia mudar sua vida positivamente ou deixa-la mais um ano de sua vida dentro do buraco. Era em um festival de bandas novas onde cada cidade tinha uma banda representante que apresentaria cinco músicas, fossem elas covers ou originais, e ela e seus amigos estavam representando a pequena cidadezinha de interior que saíram. Neta de alemães, aprendeu desde pequena o idioma e cantava em inglês e alemão, assim, uma das covers que fariam era de sua música favorita Hilf mir Fliegen do Tokio Hotel.
Ainda com muito nervoso, o jovem rapaz de pólo Ralf Lauren graduado em rádio TV que apresentava as bandas anunciou seus nomes e por fim o nome da banda. Podia ouvir o nome da banda sendo chamada pelos vários jovens de sua cidadezinha natal e outros vários gritando enlouquecidamente pela emoção de estarem lá na plateia. A moça de 22 anos respirou e entrou por último logo após o baterista, o baixista e os dois guitarristas. As mãos trêmulas e seus olhos por mais maquiagem que possuíssem ainda tinham o notável contorno vermelho adquirido pela bebida e pelas várias substâncias que costumava ingerir antes do show, quase em uma abstinência. Deu um toque para testar o microfone e contou, ainda respirando o mais fundo que pudesse, para que os músicos começassem a tocar. A primeira era um cover de You, do the Pretty Reckless. A original deles Black Sheep era a seguinte, depois um cover de mais uma do The Pretty Reckless e uma do Tokio Hotel e finalmente a musica que poderia definir tudo o que havia para ser definido naquele show, Hilf mir Fliegen, uma música que definia seu ser por completo. As primeiras notas da música começaram e ela suando frio. Sentia falta de sua mary jane e de sua garrafa de vodka mas tinha que encarar aquele momento porque tinha prometido para seu irmão mais novo que iria dar o melhor show de sua vida...

Komm und hilf mir fliegen
Leih mir deine Flügel
Ich tausch sie gegen die Welt
Gegen alles, was mich hält
Ich tausch sie heute Nacht

E cumpriu a promessa. Cantou a música que era a música de sua vida, que sempre ensinara seu irmão a cantar. Cantou-a com o coração, do jeito que sabia cantar melhor. A plateia gritou, se emocionou, acompanhou e ao fim aplaudiu e no fim, com os agradecimentos. Por mais que estivesse completamente sóbria, aquele realmente tinha sido o melhor show de sua vida...

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