Maybe someday...

Se apresentou um dia de qualquer jeito então quando lhe recebi em casa, em meu lar doce lar, de terno meticulosamente esticado, como se tivesse posto um terno novo só para vir tomar este café comigo, e sapatos muito bem lustrados, parecia ter acabado de comprá-los e lustrá-los antes de vir pra cá. Seu perfume também estava forte, quando lhe cumprimentei senti o odor. A menos que tivesse mudado de perfume. 
Não sei o que aconteceu, mas era nitidamente perceptível que havia algo estranho com você. Estava arrumado demais, bem vestido demais, perfumado demais, formal demais.... Incrível demais. 
Bem verdade, você sempre estava incrível, mas havia algo muito mais incrível em você e vislumbrando-te dos pés a cabeça, discretamente, eu tentava entender o que se passava contigo para haver tanta arrumação nessa pessoa de fronte à mim, em pé enquanto eu me encontrava sentada, quase afogada em pensamentos e emoções. 
Achei que ficaria mais tempo com meus afogadores, mas silabou pouco a pouco -- quase temente à algo que eu não compreendia, mas que eu sabia que era coisa da sua cabeça -- , cortando o silêncio que se fazia presente naquele instante. 

"Te quero de volta pra mim." 

Ainda estava temente, de modo que quando terminou de falar, fechou a boca imediatamente, parecendo se arrepender de ter dito o que disse. Queria ter processado imediatamente suas palavras, mas isso não ocorreu, desejei que estas palavras tivessem escorrido atravessadas na minha garganta e me fizessem ter uma resposta imediata, mas não ocorreu. Passei um longo instante tentando saber o que fazer, sem sucesso algum, obviamente, mas ainda consegui soltar uma resposta. Uma pergunta, somente.

“Por isso que veio?” 

“Sim” 

Ainda não sabia exatamente como você queria que eu voltasse a ser sua naquele instante, mas eu tinha minhas ideias de como voltaria a ser sua, por mais vadias que estas parecessem. Você nunca conseguiria ler minha mente da mesma maneira que eu nunca leria a sua e assim prosseguiríamos e bem, eu odiava isso. Queria saber o que se passava com você e queria que você pudesse me dar qualquer sinal que fosse do que você queria que fizéssemos naquele momento.

“Como?” – silabei sem saber o que fazer e você piscou os olhos e inclinou a cabeça, não entendendo o que eu queria dizer “Como você me quer de volta?”

Não tenho muita percepção do que aconteceu dali em diante, mas você se sentou ao meu lado no sofá e me beijou como no nosso primeiro encontro, cinco anos antes. E me deitou naquele sofá e a velocidade com que você se livrou da minha camiseta cortada e do meu shorts e eu me livrei de seu paletó e sua calça, foi inacreditável e os sons emitidos de nossas bocas enquanto eu era embalada por seus braços e por seu corpo estão ecoando até agora, a manhã seguinte.
Você ainda está dormindo e não quero te acordar, gosto de sentir sua respiração na minha nuca, me faz bem... 
Algumas horas se passaram desde que acordei e adormeci novamente e você acordou antes de mim, e agora esta lá me observando, mas quando abri os olhos e lhe fitei com os mesmos semi-abertos, você parece ter se lembrado de algo e levantou com pressa, me deixando entre os cobertores sem entender o que se passava já que tarde passada estava feliz comigo. E me querendo de volta. 

“Tenho assuntos pendentes à resolver. Volto logo.”

Me afirmou isso quando estava na porta, antes de me beijar uma última vez, me envolvendo com força e firmeza nos braços, antes de sair porta a fora.
.... 
Isso havia sido há cinco anos e até hoje nunca o vi voltar, nem passar pela rua do meu prédio. Talvez algum dia ele volte, mas isso não significaria muito hoje...

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