Mas se ainda cabe me abrace, enfim

Os óculos escuros escondiam as olheiras que denunciavam claramente as poucas horas de sono dormidas que nem mesmo quilos de maquiagem ocultavam decentemente. Ainda acreditava que se tivesse ambos os olhos roxos, não teria marcas tão fortes sob os olhos negros, sempre bem contornados de lápis de olho preto.
Caminhava por entre as avenidas e pensava no que estava fazendo com sua vida. Se afundara entre sentimentos e agora beirava se afundar em depressão. Que vida era aquela? O café não lhe curava as dores de cabeça, muito pelo contrário, as piorava em demasia. Há quanto tempo não passava mais de três horas no salão? Suas mechas estavam desbotadas e quase sem cor. A raiz ainda era retocada, mas e as mechas? E não era por falta de tempo. Era por preguiça. Falta de vontade. O pilates e a yoga também foram abandonados. Academia que ela pensou em fazer? Nem em sonhos passou.
O que era aquilo? O que era aquele ser que habitava naquele corpo, que sempre fora de mente tão ativa? O que acontecera? Ela era tão agitada, tão animada.... O que se passara?
Sempre se dedicou à si mesma, em 100% do tempo. Mas e agora? 
Tinha o namoro, tudo bem. Ela sempre lidou otimamente bem com mesmo, mas e a vontade de sair do conforto dos cobertores e dos braços do amado para ir para a yoga no sábado de manhã? E a vontade de almoçar na rua quando o namorado a esperava com o almoço pronto em casa, bem no horário, antes do segundo turno da faculdade? Tanta coisa... Tão nuvem cor-de-rosa que era difícil pra ela acreditar.
Ela que nunca acreditara que um dia estaria tão bem, que ficaria de manhã não querendo sair de casa para poder continuar dormindo abraçada à um rapaz de barba por fazer, que sempre fazia questão de deixar a mesma roçar suavemente em sua pele, fazendo suaves cócegas que lhe tiravam o fôlego em certos momentos e a deixavam mais e mais interessada no rapaz que lhe deixava usar suas camisas de flanela mais velhas pra dormir e lhe aconchegava nos braços, soprando e beijando-lhe suavemente a nuca, arrepiando-lhe todos os pelos presentes no corpo esguio....
E por vezes ela se pegava sonhando acordada com o café nas mãos, encarando os transeuntes na rua em suas vidinhas que lhes levavam a caminhar rapidamente naquele horário, sem realmente prestar atenção nos mesmos. E novamente sonhava com o rapaz que naquele dia estava de folga, questionando-se ainda mais o porquê de estar daquele jeito como estava. Tão... apaixonada...

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