Knocking on your door

Bati na porta da tua casa numa tarde ensolarada de domingo, naquelas que as pessoas usam para ir ao parque ou qualquer coisa do tipo, e tu me recebeu sem camisa com aquela calça de moletom preta e sem graça mas que tu sempre usava para dormir porque segundo você ela era extremamente confortável. Ergueu a sobrancelha e me encarou antes de perguntar cautelosamente o que eu queria e respondi perguntando se eu poderia entrar para conversarmos.
Pareceu surpreso mas me deixou entrar mesmo assim, pedindo para que eu fechasse a porta e desse um giro na chave assim que passasse pela mesma mas me distrai acompanhando o movimento das pontas de teu cabelo, que sempre foi muito melhor que o meu, em tuas costas brancas, escorrendo por seus músculos maravilhosamente bem definidos. Virou-se percebendo o tanto de tempo que eu demorava e me virei rapidamente para fechar a porta o quanto antes, mas não deixei de notar pelo canto de olho seu cabelo já estava roçando suavemente em sua cintura e que você vinha cultivando um discreto cavanhaque loiro nascendo na sua pele quase albina e eu achava isso minimamente sexy, principalmente estando em você.
Ergueu a sobrancelha novamente reparando que minhas mãos tremelicavam de leve mesmo que o apartamento estando em uma temperatura razoavelmente quente, mas ainda sim, estirou-se na poltrona enquanto eu me sentava à tua frente e retirava o casaco de couro que estava por cima da minha regata negra, estendendo-o dobrado por sobre as pernas enquanto você pegava um cigarro e o acendia.
Estranhei porque você nunca foi muito de fumar, apenas quando estava muito nervoso ou ansioso, então me ofereceste um trago e eu aceitei.
Parecia meio obsessivo, mas me sentia necessitada de tocar onde seus lábios tocaram, em busca de um vestígio, mesmo que mínimo, do gosto dos mesmos pelo menos mais uma vez.
Eu era ridícula.
Tirei o trago e devolvi-lhe o cigarro e você já o pôs nos lábios, retirando-o logo em seguida e me questionando o que eu fazia ali.
"Estava por perto e decidi dar 'oi' antes de ir pra casa."
"Não acredito."
"Por quê?"
"Depois que parou de vir aqui nunca mais decidiu dar um 'oi'. E sempre passou aqui na frente..."
"Mas..."
"Sempre fiquei observando pela janela na hora que eu sabia que você voltava da faculdade."
"Acho isso..."
"Patético? Eu sei. Eu também."
"Então por que...'
"Porque só sei fazer isso quando não estou trabalhando ou tocando."
"Por que não ligou?"
"Não estava sentindo falta. Não mudaria nada."
"Sabia se eu estava sentindo falta?"
"Se sentiu minha falta estava fingindo muito bem que não sentia."
"Nunca imaginei que você se convenceria..."
"Seu plano de convencimento deu certo. Você me convenceu. Mas..."
"O quê?" -- me ajeitei na poltrona involuntariamente, inclinando o corpo para frente
"Ainda não me disse oque veio fazer aqui."
"Senti sua falta e queria ver como estava."
"Agora que viu vai embora, certo?"
"Se quiser eu vou agora."
"Pode ficar mais se quiser. Não me incomoda."
"Mas você quer que eu fique?"
"Se for pra me beijar e me deixar te ter de volta então eu adoraria que você ficasse."
"Não gosto de admitir, mas eu adoraria ficar assim também..." 

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