The day woke up

Ele ainda não sabia onde ela estaria à essas horas, nem tinha como saber. Quando ela estava partindo ele estava acordando e quando ele foi para a janela, observar a extrema claridade que penetrava o quarto através da janela, e se deparou com a moça de cabelos longos e arruivados, terminando de pôr a mala no taxi e erguendo a cabeça uma última vez para encará-lo com certo pesar nos olhos, deixando-lhe um último aceno dolorido para o rapaz de cabelos claros, que simplesmente tocou o vidro.
As últimas horas da noite passada e mais outras várias que passaram juntos se inseriram firmemente na mente do jovem que costumava se divertir com várias outras moças por noite. Nunca que ele imaginaria que algum dia ele se encantaria com uma moça por mais do que algumas horas. 
Ele queria ser apenas mais um solitário dessa vida.
Mas ela também queria ser apenas mais uma solitária nessa vida. 
A senhorita já tivera traumas o suficiente na vida para não querer mais sequer pensar em outro amor. Ela passara os últimos anos evitando qualquer sinal de tal sentimento e agora estava ali sonhando novamente com outro rapaz, imaginando que ele pudesse finalmente preencher aquele espaço vazio que ela ocultava com trabalhos, tarefas, bares e pubs. Mas desta vez era diferente das outras vezes.
Infinitamente diferente. 
Aquele rapaz que a levara para casa após algumas rodadas de chopp no maior pub da cidade a fizera criar esperanças de que talvez em algum momento, bem no mais profundo canto de seu ser, que talvez ele fosse aquele cara que seria diferente de todos os outros e que ele que lhe preencheria esse vazio oculto de sua alma. Que talvez ele fosse o primeiro acerto dela.
Mas ela era uma solitária.
Fugira quando vira onde essa história chegava. Fugira após uma semana de perfeita convivência quando vira que a prosa tomava um rumo inesperado. Quando vira que ele vinha se tornando mais do que ela queria que ele fosse, mais do que ela esperava que ele fosse, fugiu. Passou a última noite no aconchego dos braços dele e então partiu, escapou para onde pensou que não seria encontrada, para seu país de origem. 
O jovem sabia bastente sobre ela, mas não para onde ela pretendia ir quando partisse, então partiu na calada da madrugada. As malas mal foram desfeitas então foi fácil rearrumá-las antes de partir. Algumas lágrimas solitárias foram derramadas enquanto se preparava para partir, mas mesmo assim, foi. Agasalhou-se rigorosamente devido à intensa neve e espessa neve que caía na rua e assim chamou o taxi. 
O veículo chegou para buscá-la e ali estava ela colocando as malas dentro do porta-malas quando pesarosamente se virou e um floco de neve caiu na ponta de seu nariz e ela avistou o rapaz a observando a janela, com a ponta dos dedos no vidro e uma intensa dor transbordando de seus olhos. Uma lágrima fugiu dos amendoados olhos dela e ela deu um discreto aceno de Adeus. Aquilo lhe doeu com tamanha intensidade que apenas os fones de ouvido com a música mais revoltada que havia em seu telefone, foram capazes de lhe poupar as grossas lágrimas que desejavam sair...
No aeroporto descobrira que seu vôo teria uma hora de atraso por conta da tempestade então teria que aguardar dentro do aeroporto, tendo apenas a paisagem que se encontrava do lado de fora para observar. O céu ainda não clareava e aurora ia se desfazendo no céu, mas ainda era uma cena maravilhosa de se observar pelo enorme vidro do galpão de embarque. Nem  deveria se importar, ela que partira, ela que se fora sem dar notícias. Ela que não o quisera mais. Mas não podia deixá-la partir sem ao menos se despedir então começou a maquinar onde ela poderia ter ido de mala e tudo... Pensasse, pensasse e nada.
Pensou pensou e mais um pouco de pensamento e finalmente pensou: ela deveria estar voltando pra onde quer que tivesse vindo. Para a estação de trem, ele foi. Uma hora rodando e nada dela em canto nenhum. Para a rodoviária e nada também. Sabia que todo meio de locomoção para fora do país estava parado ou atrasado algumas horas nos ultimos dois dias por conta das tempestades de neve então tinha algum tempo, mas tinha medo de encontrá-la tarde de mais. 
O aeroporto era o ultimo lugar que ele deveria procurar, mas a encontrou, já embarcando no avião. Ela o observou e ele a olhou de volta. Tarde de mais, bem verdade...
Ela acenou e ele pousou a ponta dos dedos e a testa no vidro. Ela partia sem ele. Despedida dolorosa, porém necessária.
Eram só mais dois solitários nesse mundo...

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