Lost Fairytale

Era uma vez uma garota que nunca teve nada em momento algum. Tinha felicidade em no fundo de seus bolsos do casaco de moletom, mas sempre quis mais, sempre quis algo além da felicidade que tinha. Queria um círculo de aberrações à seu redor com suas bizarrices consideradas normais e não suas próprias bizarrices, só porque todos consideravam suas bizarrices erradas, mas bem, eram bizarrices diferentes das bizarrices "normais" que todos à seu redor praticavam. E com os anos, passou a não acreditar mais que um dia as coisas melhorariam, que um dia suas bizarrices seriam consideradas normais porque nunca tinha ouvido alguém dizer "Não tem problema, eu te entendo".
Anos e anos se passaram e todos os anos a mesma promessa de ano novo se repetia: Eu farei parte dos "normais". Todos os anos prometia que mudaria e que faria com que suas bizarrices "estranhas" fizessem parte das "normais". 
Nessa busca, a felicidade que se encontrava por seus bolsos foi caindo, porque o único jeito de alcançar essa normalidade, era voando, flutuando, e flutuando o mais alto que pudesse. 
De tanto flutuar, toda a felicidade caiu e nada mais lhe sobrou, definitivamente. Ergueu muros impenetráveis e barreiras inimagináveis para que nunca alcançassem o castelo que vinha erguendo em seu redor, porque já que perdera tudo, os muros eram sua única salvação...
Mas, dentro de tantas paredes, escadarias, pedrarias, concreto, cimento... havia uma saleta escondida, no centro do castelo, com várias trancas e dentro, um caixão de vidro onde o corpo e o coração frágil jazia em sono profundo, batendo incessantemente em intensidades variadas, dependendo do ataque que os gigantes muros do castelo recebiam. Nada chegava no caixão.
Nada penetrava o castelo, por mais que tentassem. De tão difícil que havia se tornado a invasão das muralhas, apenas sondavam, apenas observavam de perto as sólidas muralhas para admirar seu tamanho, mas nunca tentavam se infiltrar nas mesmas pois seu tamanho assustava à todos porque parecia que nada, nunca, jamais, entraria por aquelas muralhas. Enquanto tantos se amedrontavam com aqueles muros e proteções e a garota solidificava seu castelo por ver que ninguém nunca tentaria entrar dentro dos mesmos, ela pensava consigo mesma, em seu sono profundo, quando alguém viria para dentro das muralhas para lhe carregar até a terra firme e ela voltar a ser como qualquer pessoa. Sem enormes muros, castelos e barreiras para lhe proteger...
Um belo dia qualquer, um estranho, de maneira estranha, tão estranha quanto ela, entrou nas duras e sólidas paredes do castelo, atravessando todas as barreiras até chegar a saleta central do castelo. O estranho passou com uma imensa facilidade por todas as portas, labirintos e escadarias até chegar ao centro de todas as muralhas que cercavam o castelo e centro do próprio castelo e então sentou-se, admirando o caixão de vidro.
Nada foi dito, nada foi feito.
Ele apenas sentou-se e admirou o caixão de vidro. Nunca retirou a tampa. Nunca fez-lhe dar o suspiro final, nunca fez nada. Nunca trouxe-lhe à terra firme, nem nada. Apenas observou o corpo em sono profundo e impediu que qualquer outro viesse mexer no caixão. Preferiu apenas ficar lá e observar o caixão...
E em seus mais profundos sonhos, ela se via viajando em longos campos em busca da sua há muito perdida liberdade. Ela se via descobrindo novos lugares e novos mundos... 
Ela se via em terra firme, mesmo que solitária, em terra firme...

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