And I miss the best part of me


Encarou a lápide que estivera encarando há um ano atrás em que estava entalhada a frase "Aqui jaz a melhor parte de mim" e manteve-se ali por um tempo consideravelmente longo. Respirou fundo e passou a mão no cabelo, ainda negro e longo, mas agora com mechas rosa-choque e jogou a rosa que tinha em mãos: amarela manchada de vermelho e laranja. A rosada de manchas rosa-avermelhadas estava lá ainda, coberta de orvalho porque chovia e levemente esburacada pelo tempo. Mas não seca. 
Pensara que tivesse sido um sonho a última vez que estivera lá, mas percebera que não. Era real. O melhor de si realmente estava morto Não havia nada de bom sobrando em si. Alcançara tudo o que sempre quis mas não havia nada do que se orgulhar. Não havia mais nada bom dentro daquele corpo. Virara uma casca vazia e longe do que parecia, não sentia o mínimo prazer nisto.
Frio e chuva novamente e as gotas caíam com força no guarda-chuva, lembrando um pouco das escassas lágrimas que fugiam de seus olhos naquele momento. Sentia falta de seu lado bom. Sentia falta de sorrir verdadeiramente, de correr sem se preocupar, de ter o estômago doendo por conta das crises de riso, de brincar de bobeiras, de nada importar... Sentia falta de tanta coisa, mas acima de tudo, sentia falta de olhar no espelho sorrir orgulhosa com o que via. Não conseguia mais. Fingia que estava feliz enquanto morria cada dia mais por dentro.
Era doloroso dizer, mas, conseguia contar os dias para que o resto de si morresse. A parte boa lhe sustentara por anos, e agora? Um ano depois da morte da mesma, como faria? Sobrara só a pior parte e esta vinha se decompondo aos poucos. Não tinha esperanças de uma melhora significativa. Não tinha esperanças que reencontrasse uma melhor parte para si.
Caiu de joelhos junto ao túmulo, chorando aos soluços e se perguntando até quando tudo continuaria daquele jeito? Até quando continuaria infeliz daquela maneira, fingindo dia após dia uma felicidade que estava muito distante de sua realidade, querendo gritar todos seus sentimentos ao invés de engoli-los e afogar-se com os mesmos dia após dia?
Até os joelhos cederam e então deixou-se cair junto a lápide, sentiu um tremor no corpo inteiro e então percebeu que tudo não passara de um pesadelo. Um longo e repetitivo pesadelo que retratava tudo o que vinha se passando consigo naquele momento...  

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