End of the line

Todos sempre me disseram que era loucura. Ou bebida mesmo. Nunca acreditei que eu fosse realmente louca. Eu não era louca. Meus pais me deixaram apodrecendo nesse lugar há quatro anos e eu ainda não sei porque estou aqui. Me disseram que eu era sociopata só porque ateei fogo naqueles ratos, mas eles mereciam morrer mesmo. Eram nojentos. Tinha também aquela garota que eu assustei e ela escorregou, caiu e deslocou o tornozelo e depois eu ri. Não vi nada de errado nisso, mas papai e mamãe viram. Não sei porquê. E também não sei porque eles estranharam tanto eu ter 16 anos e ter bebido uma garrafa de vodka sozinha depois de três latas de energético. Começaram a me estranhar e me trancaram dentro do sanatório da cidade depois de alguns episódios a mais.
Agora cá estou eu. Com um cigarro entre os lábios e observando o movimento da rua lá embaixo. Acho que nunca pensei que estaria aqui em cima e pensando na vida. A brisa é boa. É um bom lugar sim pra pensar, pra falar a verdade, nunca conheci um lugar tão bom pra pensar quanto esse. Mas talvez pensar não seja o suficiente.
Talvez a felicidade, a alegria, surja quando se voa. Quando se cria asas e sai-se flutuando por aí em direção ao nada porque talvez o nada seja sinônimo de solução pra tudo. 
Decidi que ia voar. 
Larguei o cigarro.
Dei um passo à frente.
O ventou começou a acertar meu rosto com grande intensidade e abraçou meu corpo como se fossemos velhos amigos e eu o acolhi maravilhosamente bem. Eu não tinha amigos, tinha só alguns desenhos que conversavam comigo de vez em quando e eles eram bem legais até. A gravidade parecia conversar comigo e eu sentia conforto. A alegria possivelmente estava vindo torrencialmente naquele momento e eu não estava me arrependendo nem um pouco daquilo.
Olhei para o chão e me senti cair mais. Será que ia doer muito quando eu parasse de voar? Não sei. Quero saber logo. Estou curiosa. Dizem que não dói, mas olhando a firmeza do asfalto e a velocidade que estou voando, deve doer pelo menos um pouco. Deve ser uma dor bem intensa, bem forte e dilacerante, mas rápida. 
Agora eu estava pensando aqui comigo. Nunca tive muitos amigos mesmo. Acho que nunca tive um amigo de verdade pra ser bem honesta. Então o vento me abraçar amigavelmente já é uma grande coisa. Será que vai doer, será que vai ser pior? Pior é que não acredito que ficará melhor, mas estou acreditando que estou deixar de estar bêbada...
....
É. O fim foi rápido e de dor instantânea. Exatamente como bolei que seria...

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