It's just glass...

Era bonito, ficou assustador. A história que lhe contavam era sempre legal, feliz.... Perfeita. Mas agora, arremessando copos em direção a parede via que não havia nada de lindo ali. Apenas uma situação assustadora do qual não encontrava saída. Estava sozinha em casa e com raiva, sabendo que teria de limpar depois e que teria de comprar todo um kit novo de copos para a casa, pela quantidade que fora destruída naquelas ultimas três horas. 
Praticamente todos haviam quebrado. Bem verdade, ele haviam sido quebrados por ela em colaboração com a parede.
Tivera a pior notícia de seus 25 anos de vida. Suspeita confirmada por cinco testes feitos mais cedo daquele mesmo dia e aquilo lhe revoltava. Por alguma razão mais interna e sentimental não queria em momento algum ter descoberto a real razão de seus enjoos e ânsias constantes que vinham lhe afetando nos últimos dias. Nunca permitiria que o rapaz com quem estivera três dias atrás, e que naquele momento estava do outro lado do país com a família, soubesse realmente do que se passava com ela naquele momento. Era a pior coisa que um dia poderia lhe acontecer na vida. De que importava se eles se conheciam há quase dez anos?! Nada. Nada era importante naquele momento. Apenas o fato de que não haviam mais copos para serem arremessados na parede e que ela não podia nem sonhar em pisar próximo à parede que estava junto a porta da frente por estar descalça e por haverem mais cacos de vidro ali do que qualquer coisa.
Tornou-se em direção a despensa para pegar a vassoura e o chinelo mas logo viu os minúsculos cacos reluzindo à luz do pôr do Sol que invadia o apartamento pela pequena varanda que ali havia. Pareciam cristais, o que por alguma razão desconhecida, este fato pequeno e nem tão inédito prendeu completamente a atenção dela. Deixou as pernas cederem e sentou-se com os joelhos juntos de frente para todos aqueles cacos que refletiam a luz e distorciam a imagem do piso por de baixo dos cacos maiores. Respirou fundo e passou sabe-se lá quanto tempo encarando os cacos. 
Era idiota o pensamento, mas eles tinham lá sua beleza por serem... Destrutivos. Pensava que podia "acidentalmente" cair em cima dos cacos e terminava com sua história e com a da criança que estava em estágios iniciais de formação dentro de si. Pensava em perfurar-se para terminar com a história daquela criança que nem era uma criança ainda, em bem verdade. Em flashes de lucidez sentia-se sádica por pensar em acabar com a vida de uma criança que nem viera ao mundo ainda, mas, a vida dela também mudaria, as coisas nunca seriam as mesmas e apesar da idade ela não estava pronta para cuidar de outra vida além da sua. Não queria e não pretendia. 
Possivelmente era alguém bem irresponsável ela, mas naquele momento havia se tornado atrativo pegar um dos maiores cacos, que chegava até a ter uma curvatura de aproximadamente uns 40°, e brincar com esse caco na mão.
Possivelmente uma situação deprimente e bem patética....
Parou de encarar os copos e lembrou-se da cadeira suspensa de vime que mantinha na varanda para pensar. Decidiu parar com a ocasião patética e pegou o maço de cigarros, acendendo um e tirando um trago antes de pensar por um instante consigo mesma e esmagar o mesmo no cinzeiro e colocar suas duas pernas dobradas com o joelho de encontro a seu peito.

"Já que não consigo decidir o que fazer com você por enquanto, você tem o direito de ser bem cuidado..."

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