Pessoa, F.

Me sentei no sofá, meu bom e velho amigo sofá. Companheiro de tantos momentos, que me apresentou tantos outros companheiros. Naquele momento, a madrugada silenciosa (e eu) contava com a presença de aproximadamente 5 pessoas, cada uma de um lugar diferente. Um era o pastor de ovelhas que a avó lhe ensinara a ler e escrever e que este acreditava veêmente que o melhor lugar na terra era o campo. Outro era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa que nem tenho certeza do nome, mas que encntrei um di por ai em Portugal, tem um papel amarrotado na mão de nome "Poema em linha reta" que por mais forte que seja, foram as frases mais humanas que já li em minha vida terrena. Minha cabeça estava rodando por conta de algo que parece ser a pior ressaca da minha existência e existe um cara alto, sério e de feições e traços duros  à minha frente disposto a me ajudar com a dor. Deu-me comprimidos e um copo d'água e disse que rodando pelo meu minúsculo cubo (que educadamente chamo de apartamento) achou meus rascunhos e que esses rascunhos eram bons, junto à uma leva de coisas que conforme ele falava eu via que além de sério e puramente racional, ele era uma pedra bruta no quesito literatura e pensei em moldá-lo em uma grande e bela jóia rara. Difícil mas não impossível. O pastor nos achou e perguntou se por acaso estávamos inteiros. E não posso deixar de avisar que ele era possivelmente o único que ainda não havia ingerido uma gota sequer de alcool e digo também: não tenho a mínima ideia de como todas aquelas pessoa chegaram ali. Lembro-me de ter retornado de meu passeio vespertino e me deitado na cama, fechado os olhos durante algum tempo e me lembro também de ter trancado a porta, mas não entendo como alguém teve a capacidade de entrar no meu cubo porque não tenho confiança o suficiente em qualquer um para deixar qualquer um entrar. Não sou do tipo de amigos e por isso o ambiente está lotado de papéis rascunhados e rabiscados, eles consolavam minha solidão...
Por fim propus ao homem que me ajudou na ressaca, de sobrenome Reis, ao pastor, de sobrenome Caeiro e à um terceiro que se juntou a nós enquanto eu retomava a consciência, de sobrenome Soares que nada mais era que um ajudante guardador de livros, que sentássemos e escrevêssemos qualquer coisa que pensássemos enquanto conversávamos. Meu plano inicialmente era de convidar apenas o Reis, mas os outros dois se aproximaram e participaram da conversa. 
Quem escreveu mais, quem escreveu menos, não sei. Sei que após cinco copos de vinho, vinte minutos e algo em torno de cinquenta poemas, o engenheiro inglês-português, de sobrenome Campos, juntou-se a nós com uma taça de vinho em mãos declamando o quanto a sociedade era confusa, irônica e hipócrita. E nos pronunciou sobre o papel que estava em sua mão "Poema em linha reta", me fazendo pensar o quanto aquelas palavras eram a coisa mais humana que um dia já entrou em meus ouvidos. 
E naquela noite após cinco horas, três garrafas de vinho barato, uma de espumante e algo em torno 150 poemas e prosas escritos,  apaguei no sofá sem saber o que me ocorria. E o cubo estava limpo. Impecável e vazio. O completo oposto do que estava noite passada quando cheguei de meu passeio...

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