Sweet, sweet swan...


Olhava em volta freneticamente, os olhos não paravam de se mexer, acompanhavam algo que os que a observavam não conseguiam compreender e muito menos acompanhar o ritmo de seus olhos. As mãos frias, congelantes, suavam bicas quentes, quase ardentes e as unhas estavam roídas, de vários tamanhos diferentes e conforme as mãos se esfregavam freneticamente atritando aos braços com os dedos dobrados, as unhas irregulares arranhavam as costas dos braços e as próprias costas da garota, que estavam cheias de vergões vermelhos de arranhados que sangravam vez ou outra. Não importava quantas vezes suas unhas fossem cortadas, ela sempre se arranharia, outra e outra vez... 
Haviam colocado gazes e ataduras nas pontas de seus dedos para que não se ferisse tanto, mas conforme olhava as paredes via os riscos, rabiscos e várias palavras que iam se movendo agitadas em sua vista e vozes. 
Vozes que não se calavam.
Vozes finas, grossas, medianas, calmas, agitadas, irritantes, agoniantes... Elas não se calavam e cada vez mais soavam pesadamente, arranhando seus ouvidos, fazendo com que ela passasse o nervoso esfregando os próprios braços com as mãos de dedos cobertos com gazes. Ela conseguia se arranhar novamente, rasgara parte das ataduras com os dentes e agora as ataduras faziam o encargo de arranhá-la conforme ela esfregava os braços. 
Agora mordia os lábios. Arranhava os braços e mordia os lábios, que se descascavam e sangravam to tando que se secaram e se queimaram com a saliva e com a secura. Poderia virar milhões de copos d'água garganta a baixo que nunca resolveria. Os dentes ainda eram suavemente afiados, machucavam os lábios e todo seu contorno e rasgavam as ataduras, deixando-as com pontas soltas que feriam-lhe a pele. 
Os pés estavam completamente feridos. Bolhas, joanetes, calos, arranhões... Totalmente feridos e descascados. Nenhuma bailarina um dia ficara com pés naquele estado, mas ela estava e dizia que não era bom o suficiente, dizia que mesmo que se encontrasse em carne viva ela alcançaria a perfeição e que na perfeição ela estancaria-se e nunca sairia de lá. 
Os que estavam à seu redor temiam, temiam tanta perfeição pois ela se destruia pouco a pouco atrás dessa doentia perfeição e nesta doentia perfeição, possivelmente ela encontraria seu fim. Não tomava analgésico, mas veja onde ela se encontra, veja o que ocorrera com ela na busca por essa perfeição. Ela estava perdida, estava desolada. A doce garota havia morrido e não havia nada que a trouxesse de volta.  Seus olhos não eram mais os mesmo, não tinham mais a mesma doçura e paz de antes, não tinham mais Ela contida neles, havia apenas aqueles dois olhos vazios que aqueles olhos desesperados e redondos que se moviam freneticamente sem parar em instante algum, desesperados atrás da perfeição nunca encontrada.
Só havia uma coisa a ser dita convictamente sobre o que acontecia com aquela moça, ela havia enlouquecido e se perdido no fundo poço da busca pela perfeição...

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