May angels lead you in

E então olhamos para o lado e vemos: a cadeira vazia, a poltrona gelada... A sala em silêncio. E nos perguntamos o que ocorreu. Por que tanto silêncio? Por que as coisas parecem estranhas? Por que elas não são mais tão familiares quanto eram antes? Por que parece que algo falta mas não compreendemos exatamente o porque desta falta?
Nós encaramos o mundo como se fossemos fortes, resistentes à qualquer tipo de dor, com ose qualquer dor que se colocasse em nosso caminho fosse algo simples de se superar. Como se a dor não existisse, como se ela existisse apenas para nos fazer refletir e criar as mais belas poesias da história mundial e que serão lidas por milhões e mais milhões de gerações à frente. Tudo bem, a dor pode ser superável, curável, algo que temos a capacidade de superar facilmente, mas e quando o nome dessa dor é morte?
O que fazemos quando encaramos o lugar onde alguém sempre estava e não vemos nada? Quando vemos que por mais que tivéssemos nos despedido milhões de vezes, nenhuma despedida é como essa porque depois que nos deparamos com essa piada, como uma vez disseram, nós não aceitamos e nós acreditamos que vamos continuar vendo a pessoa, que tudo continuará como sempre foi e que ainda há toda uma vida pela frente e que no fundo, tudo não passa de uma verdadeira brincadeira que depois a pessoa vai reaparecer nos dizendo "OI! FOI SÓ BRINCADEIRA TÁ? NÃO FUI EMBORA NÃO!" e no fim todos se abraçariam e tudo ficaria bem, tudo ficaria como sempre foi. Só que não é assim que as coisas funcionam, infelizmente.
Todos os dias alguém perde um amigo, um pai, um avô, um irmão, um tio, um parente de relação sanguínea distante que tinha certa proximidade afetiva, um primo... Todos os dias alguém perde um ente, e todos os dias nos perdemos  um pouco mais e felizes são aqueles que não se perdem. Felizes aqueles que são convictos no que fazem, no que dizem, no que amam e no que sentem. Mas hoje está tão difícil encontrar alguém que não se perca, que não saiba por onde andar e acabe tomando rumos errados e ao ver que tomou o rumo errado, parte para outro rumo que talvez seja mais errado assim. E nós nos perdemos, cada dia mais um pouquinho, isso quando não desmoronamos porque perdemos alguém sentimentalmente próximo e, dependendo de como foi a perda, nos questionamos "Por que ele(a)? O que ele fez pra ter que ir embora assim?" e nas tentativas de conforto tentam nos lembrar de que não deveríamos ser egoístas, que deveríamos pensar que a pessoa estará melhor nesse outro lugar que existe alguém ou um poder maior, não sei, que sabe muito bem o que faz e que está querendo mais um anjo no Paraíso e que nós que ficamos aqui nessa vida terrena temos mais coisas importantes à serem feitas antes de nos tornarmos anjos "lá em cima". E nós aceitamos mesmo que continuemos olhando para o lado, vendo o vazio que ali se instalou e sentindo aquela dor estranha de "Nunca mais vou me deparar com você outro dia" e você não se conforma, mas mesmo assim você engole e aceita na frente de todos, se demonstra forte, mas quando repousa a cabeça no travesseiro, se desmancha, se desfaz em milhões de pedaços e então dorme despedaçado, chorando e se desfazendo.
No fim de tudo, não somos fortes. Somos fracos, frágeis e nos protegemos em cascas duras que nem sempre nos escondem devidamente. O mundo é irônico e nós partimos deste mundo antes que possamos terminar tudo o que temos em nossas listas de coisas para fazer antes de morrer...

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