Help them gather all my things and bury me in all my favorite colours

Enterram-o. Com a bandeira sobre o caixão de madeira escura maciça o vi ser entregue aos vermes subterrâneos que lhe devorariam as entranhas e que desapareceriam no mesmo ritmo que sua morte seria esquecida pelos vivos. Menos por nós. Ele era um herói, para mim, para minha mãe, minha irmã, minha família, nossos conhecidos, vizinhos, amigos(...) Ele era um herói para todos, até para a Guerra. Só não era herói para o país. Para o país, ele era um problema dos grandes.
Revolucionário. Era isso que ele era de verdade, ele praticava revoluções mentais. Isso o fazia diferente de todos os outros que um dia estiveram naquele acampamento medíocre no meio do nada e do deserto enquanto seus braços e rostos eram chamuscados pelo calor que fazia naquele inferno terrestre. Mãe sempre contou que pai nunca teve muito do que se gabar e que os dois viviam a se desentender porque segundo ela, o único momento da vida dele que ele realmente prestou foi enquanto estava no exército quando moço. Mas acho isso que minha mãe fala mentira. Pai foi herói pra mim, foi herói pra todos e por pior marido que ele fosse, ele sempre seria um grande pai. Eu e mana nunca reclamamos porque era isso que ele era acima de tudo. E ele soube ser herói de verdade.
Mãe tinha seus rancores e por isso não elogiava ele nunca, mas dava pra ver que aquele silêncio dela era de desespero naquela hora. Ela ficou me segurando os braços com força enquanto os soldados levavam o caixão do meu pai até aonde a lápide estava. Ele mandou uma carta pra vó dizendo que sabia que seu fim estava chegando e disse que gostaria de que o sobrenome de mãe também estivesse escrito na lápide. 
Mamãe chorou, apesar de odiar admitir. Agora vovó e vovô estão chorando. Tios e tias também e os colegas de pai estão se fazendo de fortes enquanto carregam o caixão para a lápide. Pai não queria que a bandeira estivesse estirada porque ele sabia que seria falso. Sempre soube que seus colegas apoiavam suas revoluções mas que o governo, o general e toda as patentes que cercavam aproximação ao general não lhe apreciavam as ideias. Na carta que roubei das coisas de vovó li que ele sabia que estava em perigo e que por isso já tinha tudo preparado. Não sabia como morreria, mas sabia que em breve seu destino terminava.
Sei que foi o general. Ninguém acreditaria em mim, mas sei que meu pai não estava em campo de batalha como ele dissera pra mãe, então não havia como ter ficado com o corpo do jeito que estava estando-se no meio da cidade, a menos que alguem provocasse.
Vi cobrirem o caixão com terra e quando estava quase sendo coberto antes da espressa camada de terra que iria por cima, bati continência ao grande soldado que meu pai foi  e aguardei até que pudesse prestar as últimas homenagens à ele.
Terminado o procedimento, deixei a última coroa de flores com minha mãe para que ela que colocasse na lápide e vi uma lágrima fugir de seus olhos. Esperei ela se virar e respirei fundo, bati mais uma continência e antes de me virar para partir com minha mãe mas prometi à mim mesmo e à meu pai que esperaria a hora certa e que nessa hora certa eu seria exatamente como ele foi e vingaria sua "morte acidental" em serviço...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crônica de Halloween

Oh, fuck it

Velho violinista