Fitas e vinis

Conheci o que é amor contigo, meu querido. Me doeu o peito quando acabou tudo, mas acabou. 
Ao meio dia de uma sexta feira acabou o que um dia foi algo próximo do amor mais sincero que já vivi. Aprendi a tocar violão porque uma vez você me disse que tocar era a coisa mais legal que havia nesse mundo, e na real, era mesmo. Só perdia pra essas palavras embaralhadas que jogo no papel de vez em quando.
Te falei uma vez que queria uma máquina de escrever porque isso era uma relíquia preciosa que experimentei usar algumas vezes e mesmo tendo se tornado algo ultrapassado, eu queria uma pra ter aquele barulho das teclas enfurnando-se para baixo a cada letra que saía, para ter aquela suposta habilidade datilográfica enquanto eu digitava essas minhas palavras de tão pouco sentido superficial. Tu me comprou a fita pra máquina um tempo depois, quando contei-lhe que descobri que meu pai tinha uma guardada no armarinho de tranqueiras junto à garagem. Resmungou um pouco a respeito do preço porque parte de teu salário foi embora com essa fita porque rodou quase a cidade inteira atrás dela e só a achou numa lojinha de um gordinho estranho num quase beco do centro que lhe fez pagar com os olhos da cara.
Me falaste uma vez que queria uns vinis meio raros de umas bandas que quase não eram conhecidas por aqui porque tinha uma vitrola em casa que reproduzia-os e seus pais compraram uma agulha nova para o aparelho, mas ainda lhe faltava atualizar os vinis. Fui até um dos lugares mais assustadores do centro com um amigo ai e encontrei dois dos tais vinis que você queria. Custaram uma facada no pâncreas, mas sai daquela loja meio empoeirada com um atendente que tinha até os olhos tatuados com os dois vinis deixando uma trágica parte do meu salário de jovem aprendiz ali e não resmungando por saber que tu ficarias feliz com o que eu estava levando a ti.
Como esperado você morreu de alegria com os vinis e eu morri de alegria com a fita. Te dei um dos abraços mais apertados que você correspondeu prontamente sem ao menos duvidar da falta de minha comum frieza e lhe beijei o rosto da mesma maneira que você fez enquanto me tirava os pés do chão e me rodava no ar pela felicidade que era de ganhar um vinil e eu aceitava prontamente devido à felicidade de ganhar uma fita pra máquina de escrever.
Descobri então naquele dia que eu poderia passar momentos e mais momentos com os pés no ar enquanto tu me roda em um abraço e com o rosto perto ao teu.
Junto da fita pra máquina de escrever, tu me deu felicidade.

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