#46 de 100: Meu querido,
Nós dois temos o péssimo hábito de sermos excessivamente orgulhosos e não darmos o braço a torcer, admitindo que precisávamos de ajuda porque não tínhamos a menor ideia do que estava ocorrendo em nós e ao nosso entorno. Você não sabia o que era amar e eu não sabia o que era ser amada. Superestimamos e subestimamos muito um ao outro e isso nos estragou. Estragou o que estávamos tentando construir. O fato de recusarmos conversar sobre também estragou o que poderíamos ter sido, então cada um virou para o seu lado e fingimos que nada estava acontecendo conosco quando na verdade TUDO estava acontecendo.
Em dado momento você deixou bem claro que queria me salvar, mas em momento algum eu quis ser salva. E você não aceitou isso, acabando por me subestimar enquanto esperei que você tivesse comigo a coragem que você tinha com as garotas que você ficava. Você confundiu tudo e depois de ter tanta certeza de tudo você de repente não tinha mais tanta certeza. Bem, você não fazia mais a mínima ideia se me queria por perto.
Isso enquanto eu estava descobrindo o quanto te queria.
E, bem, esse foi o início do fim de nós dois. Daí pra frente as coisas só se agravaram.
"No sooner than you saud hello
it's time to say goodbye"
Foi algo que ouvi uns 4 anos mais tarde. Quando já tinha completa certeza de ter sido apagada de suas memórias. Tinhamos Eric Clapton e Misfits nessa história como bloquinhos perdidos dessa defeituosa história, que me esforcei por uns três anos para entender. Claramente, sem sucesso, mas pelo menos, dois anos depois desses três estava sem dores ou amarguras e conformada com o que havia acontecido, que o Adeus já tinha aberto a porta do forte de sentimentos que havia se construído e há muito vinha se desmoronando.
"Would you know my name
if I saw you in heaven?"
Essa música foi nós dois ao nos vermos pela primeira vez depois de tudo, não é? Que você viu o quanto sorri ao ver que era você ali, me encarando da maneira que sempre me encarou. Que sorriu aquele sorriso que eu gostava de ver enquanto eu me preenchia de felicidade ao ver que ainda havia uma pequena esperança viva em mim. A segunda vez foi a prova de que eu era capaz de me apaixonar por você novamente. Te ver de longe sem te reconhecer e pensar o quão incrível você era. Meu Deus, como me repreendi por ter pensado isso! Já tinha na cabeça que não pensaria mais em você, mas lá estava eu, sorrindo outra vez pela maneira como seus olhos haviam se concentrado em mim, esquecendo por um instante como tudo tinha acontecido e os inúmeros porquê de não termos dado certo.
Queria deixar bem claro, ao longo dos anos, que minha pior mágoa não foi o fato de você ter ignorado meu aniversário, mas a falta de questão e prioridade que consegui. E, como você bem sabia na época, sou muito boa em descobrir coisas, e muito do que descobri me fez ver que não valia a pena, por míseros instantes que fossem, depois de tudo aquilo, todos os planos, caos, problemas e sorrisos que havíamos gerado um ao outro, querer te ter de novo. Você não era mais o mesmo e eu também não. Era a certeza de que era a hora de pôr um ponto final em tudo.
Mal sabia eu que ainda haveria aquela sombra, que foi a nossa história, pairando por mais uns anos, mas desde o dia que decidi pôr um ponto final em tudo, esmiucei diversas coisas até chegar no ponto de perceber que, no fim das contas, meu querido, apesar de todo o desejo, sedução, emoção e desafio que apresentamos constantemente um para o outro, nós não fomos feitos para ser. Em momento algum. O tempo todo fomos feitos para estar.
E acho que, finalmente, após tudo isso, fui capaz de entender e estou pronto para deixar os 5 anos de rancor, dores e crises de ansiedade para trás e fazer o que deveria ter sido feito no início de 2014: seguir em frente.
Dito tudo, acho que apenas tenho a dizer: feliz aniversário meu querido porque há aquela pessoa que te mereça, que vai ser e não apenas estar. Aquela pessoa que vai merecer efetivamente todas essas coisas boas que você dizia estar disposto a me oferecer, mas que o desafio do universo que nós dois criamos não foi capaz de permitir.
Com todo o carinho,
R.C.
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