Sugarcane in the easy night

Fez um naked cake de mousseline de framboesa
e mesmo assim ele não veio.
Deixou uma travessa de coxinhas de brigadeiro na mesa
e mesmo assim ele não se sentou a mesa.
Preparou e colocou um cheesecake de Oreo
e ele nem sentiu o aroma.
Fez o favorito, pudim de Jack Daniel's
e nem ao menos uma colher de chá ele pegou.
Aprontou um bolo de churros
e ele nem foi para a mesa.
Colocou a melhor toalha de mesa e os mais bonitos pratos
e nada dele.
Preparou dedinhos de bruxa, mousse de mascarpone com morangos macerados, crepe Suzette, granola especial, bolo red velvet, tortinhas de chocolate com framboesa, doce de leite, tortinhas de morango, mousse de chocolate com laranja, tortinha de sorvete, brigadeiro de queijo, tomate recheado, mil folhas, chatilly de whisky, trufa com frutas secas, bolo ombré de morango; creme de abóbora e cenoura com grão de bico apimentado carne seca e queijo e feta e até cheesecake clássico fez.
Mas ele nem foi até a mesa. Não se levantou, continuou deitado, continuou inerte em pensamentos que nunca ela poderia saber. Em nenhum dos dias se deu ao trabalho de ir até a mesa, apesar de todos os esforços. O máximo que ela conseguiu dele foi que ele se levantasse e fosse até a porta da cozinha para dar meia volta e retornar ao estado que se encontrava previamente.
Conforme as noites se passavam, a situação parecia piorar.
Quando não piorava.
Em algumas noites o mais novo perguntava o que se passava com o mais velho. Não entendia o porquê de tantos doces -- e talvez não houvesse realmente um bom motivo -- postos a mesa, todas as noites. O mais velho saía sem hora para voltar e sabe-se Deus lá onde ele ia e porquê ia.
Possivelmente ia pensar, mas o ainda sim, a mulher de seus quarenta e tantos anos, após seu expediente cansativo para tentar dar a melhor vida que podia à seus dois filhos. O marido falecera anos antes e agora ali estava ela, fazendo de tudo para que o mais velho, no auge de sua juventude não partisse para longe. Fosse sumindo de casa, fosse inerte em uma cama, como se esperasse que alguém o levasse para longe.
O mais novo não deixara de ter a atenção da mãe e até gostava das infinitas sobremesas que a mãe fazia para ver se o mais velho sentava-se com eles, ao invés de vagar como um fantasma pelos corredores da modesta casa.
Quem sabe, ele volta pra cá, quem nem quando era criança... A mulher pensava enquanto fazia as sobremesas da maneira que podia. E tentava todas as favoritas e inimagináveis sobremesas para fazer para os filhos, rezando para que o mais velho aparecesse na cozinha, que nem quando era criança e sentia o aroma das sobremesas que a mãe fazia e corria em busca do doce.
Assim, fez brownie com creme de caramelo
e nada dele.
Aprontou o pavlova de frutas vermelhas
e nenhum sinal de corrida.
Preparou com o carinho o tiramisu
e ainda sim ele não veio.
O mais novo comeu todas, sobraram para o dia seguinte e se acabavam. Mas ainda sim, nenhum sinal do mais velho na cozinha com eles.
Não tinha problema. Ela continuaria fazendo porque sabia que alguma hora ele viria...

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