the walls we talked about...

Aqueles meus muros que tanto falávamos a respeito nunca me deixaram, apenas foram retiradas algumas pedras para que você pudesse olhar para dentro. Ledo engano meu, achar que não seria um erro deixar que alguém tivesse acesso à essas frestas. Que alguém fosse capaz de ver tais buracos e não mexer neles como na pintura, quase como se tivesse dificuldades em acreditar que realmente existissem. Que ao deixar alguém deixar ter esses acessos me doeria menos.
Aqueles meus muros nunca me deixaram porque ainda me haviam dores demais dentro deles. Todas com uma máscara sorridente que reluzia à todos que questionavam, à todos que afirmavam conhecer o que havia ali apesar de plena ignorância na questão, à todos que convictamente apresentavam uma solução instantânea que magicamente me traria todo o conforto que tanto me faltara por tanto tempo.
Aqueles meus muros nunca me deixaram porque constantemente seguravam cada felicidade que um dia eu tivera medo de expor ao mundo pelos anos de machucados e acabei guardando como pequenos cristais de segredos extremamente significativos que continham cada pedacinho do que me formara e me moldara, como pequenas conquistas que se firmavam conforme eu os juntava com todo cuidado que conheci, unindo-os com os melhores fios que eu tinha para costurá-los em um retrato feliz da pretensão de felicidade que sempre conservei em um retrato que me guiou para todas as direções que um dia precisei ir.
Aqueles meus muros nunca me deixaram por conter cada trinca que surgia e eu logo corria para cimentá-los da melhor maneira possível porque foram um dos fatores que mais contribuíram para impedir minha queda absoluta mesmo quando tudo parecia possível. Não que não tenham surgido alguns apoios estratégicos ao redor destes tão amados muros, mas essencialmente foram suas pedras, remendadas de tantas maneiras e formas diferentes, que assim como uma ferida, cicatrizaram em uma camada mais resistente que me conservaria inteira pelo máximo de tempo possível que me for possível e que provavelmente seguirá assim até o fim de meus tempos ou até o fim de outros tempos.
Aqueles meus muros nunca me deixaram porque até nos piores dias quando todos haviam ido foram suas pedras que continuaram ali, sustentando-se da melhor maneira possível e engrossando e se reformando com as pedras que eram lançadas do lado de fora e acabavam por lascar as paredes que haviam por dentro. Cada um dos piores dias foi cimentado como reforço para cada coisa que de alguma maneira lascava ou se fragilizava porque o muro precisava continuar existindo ali,
Aqueles meus muros nunca me deixaram porque eles me seguraram cada fratura que sofri, cada fragmento que restou de mim habita lá dentro, provavelmente com medo de novas fissuras que poderiam vir a destruir tudo o que restara e gerar fraturas que nunca se recuperariam não por meus ossos serem fracos, mas por talvez me faltarem forças e apoios para reconstruir tudo mais uma vez, após tantas e tantas vezes, incansavelmente, restaurando e rejuntando cada pequena lasca que aparecia, para impedir que tudo desmoronasse por saber como tudo iria ao chão dependendo de onde a fratura fosse. Porque as vezes o recomeço é muito mais doloroso que o fim.
Aqueles meus muros continuarão aqui até o final, quando nada mais restar, porque são eles que me mantém sabendo que todos os dias continuam, por pior ou por melhor que sejam porque as noites são longas mas não intermináveis.

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