Soon when all hope is gone...

Fim de tarde e o sorvete está quase derretendo no prato à minha frente.
Venho rascunhando versos baratos dignos de uma leitura para bêbados no bar do fim do quarteirão.
Enquanto todos quiseram escrever de amor decidi que ia escrever sobre saudades e para a saudade. E chame do que quiser: poema, artigo, carta ou crônica; seja lá do que quiser chamar. Sei que se pudesse, colocaria toda essa bagunça sentimental no correio e a enviaria endereçada à saudade que fica vagando sem rumo por ai.
Saudade essa que todos os dias me faz ter nostalgia de quando os dias eram frios, porém muito claros, mesmo quando chuvas torrenciais vinham. Essa, que tinha um gosto musical excepcional e que eu poderia contar que me apresentaria músicas novas que eu nunca havia ouvido na vida.
Saudade essa que ia e vinha e eu sempre sabia quando voltaria, com o sorriso mais lindo que meus simples olhos castanhos um dia já presenciaram frente a frente. Essa que tinha os olhos da mesma cor dos meus e que quando sorria sempre se comprimiam e pareciam brilhar, como raramente brilhavam.
Saudade essa que passava todos os dias me motivando à melhoras e à planos que nunca fiz questão de planejar data, mas que me via convicta de que um dia faria, fosse com ou sem a saudade, mas preferencialmente com a saudade. Essa que nos abraços eu me via na segurança de um, clichê, porto seguro.
Saudade essa que eu poderia passar todas as manhãs aninhada nos braços e sorrindo enquanto observava-a dormir, calma, de lábios entreabertos e expressão relaxada, e as horas não teriam vez porque a manhã era um infinito. Nosso infinito.
Saudade, você que partiu e deixou só os restos do que um dia foi bonito, do que um dia foi encantador. Já vinha colecionando saudades há um certo tempo, você foi mais uma. Mais uma saudade que partiu sem mais nem menos enquanto fiquei aqui. Posso conviver com isso.
Decidi recentemente falar sobre, mas essa saudade ainda dói e machuca um pouquinho. Posso conviver com isso, mas ainda incomoda sim.
E enquanto não passa, enquanto continua se remexendo e remoendo, me mantenho inerte, escrevendo sobre saudades enquanto simultaneamente outros tantos escreverem sobre amor...

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