I lit out to save my skin and shed some doubt

Com olhos de flerte, algo poderia sair dali. Algo profundamente interessante e conveniente para ambos os envolvidos naquela situação poderia se desenrolar vindo daquela singela situação. 
Era só um convite à um café, mas quem disse que não poderia se tornar algo mais? 
O sorriso de um elo era convidativo, do outro era interessado. De um lado, os dedos batucavam ao som da música que tocava de plano de fundo no ambiente -- quase uma perfeita trilha sonora com ritmo contrastante ao geralmente esperado para o momento -- e quem diria! era uma música que recebia grande admiração de ambos, do outro os dedos se moviam suavemente da mesa à alça da pequena caneca e nenhum movimento mais faziam. Um brilho suavemente provocativo cruzava de um à outro e diga-se de passagem, a aura que circundava os dois era perceptível à distância.
Um livro se encontrava pousado ao lado, um clássico. Do gosto de ambos, não vamos esquecer de tal detalhe, pois este em especial, é essencial.
Fora o livro que desatinara o diálogo e fora o mesmo livro que dera continuidade infinita a conversa que acarretara o convite ao café.
Grande Bukowski!
E sorriam um ao outro, diziam simpatias e os olhos de flerte se mantinham, agora na diferença de que haviam minimidades que também encantavam muito bem. Maravilhosamente bem...
Conheciam o básico, o simples, o clássico e ao perceber isso no outro, ah... Encanto certeiro. 
Uma marca de um batom forte, vibrante, fora deixada com suavidade na pequena xícara branca e interessantemente o rapaz começara a achar o ambiente extremamente ventilado quente. Ela sorriu de canto ao perceber a reação ao gesto involuntário. Sem grande trabalho atingira um ponto interessante da conversa. 
Não tinha necessidade de insinuar-se pelas roupas porque sabia em seu polido comportamento estava facilmente conseguindo que ele se desfizesse e choramingasse em sua mão, torcendo para que ela finalmente lhe desse uma chance de sair de lá para resolver seus problemas e não ficasse apenas com aqueles olhos felinos e ferinos, de sorriso arteiro em sua direção. 
Ela não bebia, bebericava o café, ele bebia. Ela não provocava, sorria, ele provocava. Ela não tentava, conseguia, ele apenas tentava com vagos sinais de uma vitória. Ela queria prosseguir o assunto, ele não. Ele queria trégua, ergueria a bandeira branca se ela pedisse, mas ela queria continuar com a brincadeira, queria prosseguir com o jogo que brincava. 
Ah, estes jogos estes jogos.
Ela sorria e ele se desmanchava. Ele se desfazia internamente no menor dos gestos. Na classe de morder o pão de queijo e bebericar o café, reforçando a mancha de batom que ali havia o encantava e ela se encantara pela segurança e decisão, a descomplicação que ele apresentara a ela no início dos flertes.
Agora? Não tinha tanta certeza de que ele seria tão conveniente assim. Parecia apenas mais uma criança desesperada por mais um pouco de doce. Embriagara-se tanto em doce e continuaria aceitando e quanto mais lhe desse, mais desesperada a criança estaria.
Ela não se desesperara, apenas esperava que o candidato atingisse as expectativas que expusera quando ele iniciou o diálogo sobre o livro que ela lia. Ele não atingira. 
Era uma ótima hora para criar algum compromisso imaginário e inesperado para partir e findar finalmente a conversa que ela vira que não levaria a lugar nenhum. Terminou com educação a conversa, quase assassinando completamente o flerte que há pouco se fazia presente, deixando intacto apenas aquele que sempre existia em seus olhos ferinos enquanto ele ainda se desfazia nos singelos encantos dela...
Ao partir sozinha, com a desculpa de que apenas assim chegaria a tempo no lugar de seu próximo compromisso pensava que sempre era tempo de lembrar a si mesma que haviam outros por ai. 
Outros que não perderiam o encanto tão facilmente...

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