E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim
Olá amigo, lembra-se de mim? Há quanto tempo não escrevo,
não é?
Publicar um texto se tornou mais simples do que a velha,
boa e conhecida carta manuscrita, sabemos bem disso, não é? Uma pena, gostava
muito do sentimentalismo e da emoção que se era possível transferir em algo
manuscrito.
Manuscritos sempre serão melhores do que datilografias e
digitalizações.
Sabe bem disso até hoje, não é?
Mas bom, vamos ao que realmente importa, o porquê tudo se
acabou, correto? Acho que teve uma tal de traição ai no meio não foi?
Como amigo não era você beijando alguém que me incomodou.
Que matou a amizade. Não foi esse tipo de traição e você tem uma boa
compreensão é conceito disso, correto? Mas posso explicar de maneira bem mais
prosaica, como você bem sabe que gosto de fazer. Esses dias vi um filme que
lançou recentemente, O pequeno príncipe. Provavelmente todos já leram – pode rir
– mas eu nunca. Depois do filme, pode ser que darei uma chance a este. Merece.
Em certo momento há palavras do qual me lembrei de nossa amizade. Uma raposa as
pronunciou, incrível certo? Provavelmente. Mas quando se vive em um planeta
muito pequenino e se é apaixonado por uma rosa e depois foge em pássaros
migratórios, nada se torna impossível, principalmente uma raposa dar sábios
conselhos à um humano.
“Tu não és para mim
senão uma pessoa inteiramente igual a cem mil outras pessoas. E eu não tenho
necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós
teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei
para ti a única no mundo...”
Em certa ocasião tivemos um diálogo que se assemelhava a
este texto. Falamos a respeito do que acontece quando se encontra alguém para
chamar verdadeiramente de amigo. E bem, acreditava que você encaixava bem no
papel, da mesma maneira que me esforcei para encaixar também. Quando você
conhece alguém novo, essa pessoa é comum, igual a todas as outras e mais
algumas por ai que você nunca nem chegará a imaginar que existem porque suas
realidades estão extremamente afastadas e distantes demais para coexistirem.
Então a menos que haja algum fato de união, continuarão sem convivência e serão
apenas pessoas que vivem no mesmo universo, somados a mais de 7 bilhões de
outras pessoas tão comuns e iguais quanto. Vocês continuarão vivendo cada um
para seu canto e vida e não haverá necessidade nem gosto da convivência. Não tens necessidade um do outro.
Entretanto, em algum momento pode ser que haja um encanto ou até mesmo uma
apresentação mais aprofundada. Com o tempo, você acredita que encontrou um
amigo. E bem, acreditei nisso.
Achei-te diferente e cativou-me por minúcias diferentes
de todos os outros seres. Ou não, algumas eram demasiado comum, mas por ser ti
que fazia, eram diferentes, porque não há gesto repetido entre humanos, por
mais que haja esforço. Cada um faz seus gestos da maneira mais bonita e singela que pode. De maneira única, e bem... Há certos encantos nessa originalidade.
Por certo período de minha curta existência acreditei que te levaria para longe e adiante. Não para sempre, mas para certa distância, sim. Falha minha, confesso. Contudo, talvez o fato de eu (quase) sempre assumir minhas falhas fez com que algumas culpas -- que nunca foram minhas, agora sei bem disso -- tivessem sido jogadas à meu encargo. E bem, nunca que eu as assumiria, por mais que não houvesse certeza na época, se eram realmente minhas ou não. Nunca fui má pessoa, agora vejo, fui apenas uma boa pessoa tentando fazer a coisa certa e errando nesse meio. E você sabia. O tempo todo.
Desde o início soube que não era minha a culpa mas quis que eu as assumisse. E a traição se iniciou neste ponto. Houveram algumas outras (várias) situações em que traição se enquadrava, mas o que realmente importa é o inicio e o fim. Eles que são os grandes protagonistas de toda a traição...
Possivelmente o fim foi quase doloroso, não sei bem ao certo, mas foi a hora de acabar com toda essa felicidade erguida em um castelo de cartas quando não confiava em mim. Quando preferiu confiar em outros que nem ao menos fizeram a mínima questão de demonstrar um gostar, quando optou por seguir terceiros ao invés de pelo menos ouvir o que eu tinha a dizer, sendo que você que não eram terceiros confiáveis.
Você soube de tudo, mas preferiu se calar. Como sempre.
Não que eu aguarde retorno, ou contato. Porque não pretendo nem que haja uma declaração, no entanto, era hora de dizer algo a respeito. E como cada um tem seguido sua vida muito bem, este se tornou um bom momento para tal...
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