Valentine's Day
Virou mulher naquele dia. Criou coragem não sabe de onde para entregar
o bilhetinho para seu amado, alguns anos mais velho que si, onde elogiava-o até
não poder mais, onde dizia o quão incrível e interessante era. Mas quem diria
que a garotinha solitária e tímida acharia coragem para realizar tal ato. Para
realizar tão corajoso feito.
Quem diria, quem diria...
Menininha solitária, nunca escolhida, isolada, silenciosa e tímida.
Quase invisível e ali estava de coragem tomada. Poderia dizer que lhe serviram em
copos para tão repentino surgimento de tal sentimento. Pobre mocinha, lhe
incentivaram a acreditar que só precisava de um pouquinho de coragem e tudo
estaria resolvido.
Planejou tudo.
Fez o bilhete.
Aguardou o dia.
O dia chegou.
O tão esperado dia chegou e ali estava ela cheia de coragem, de peito
estufado, sorriso retido para evitar que ficasse extremamente aparente o quão
feliz e orgulhosa estava pelo o que estava prestes a fazer.
As amigas incentivavam, diziam frases motivadoras, encorajavam a pobre
menina que pensava ter achado uma dose de coragem extra em seu refrigerante
naquela tarde. Diziam “Vai! Ele gosta de você! Ele está suuuper na sua!”.
Coitada, acreditou em tudo que haviam lhe dito. Como pôde ser tão boba a ponto
de poder acreditar no que todos lhe diziam mas não perceber que não haviam
sinais? Não perceber que o fato de ele a olhar não deveria incentivá-la a fazer
algo, a acreditar que ele sentia algo mais por ela.
Também, como poderia?
Ela era só uma criança que ainda estava aprendendo a caminhar sozinha
no mundo. Ele já era quase um homem. Haviam muitos que acreditavam que tinha
algo mais, que tinha algo para se acreditar entre eles, mas o que havia de
verdade para se acreditar? Nada.
Só que ela, pobre menina, ainda não sabia disso. Ainda não havia
aprendido essa lição...
Chegou o dia.
14 de Fevereiro. O dia exato.
Chegou no colégio com toda a coragem que havia em si.
Se arrumou da melhor maneira que pôde para alguém de sua idade.
O bilhete estava no bolso e ela com a coragem na mão. Ele estava lá.
Tinha chegado mais cedo naquele dia, por alguma razão que ela não conhecia. Ele
não costumava ser o tipo que chegava mais adiantado para aula. Ele era um
problema. Todas a queriam mas ele não queria a nenhuma. Não havia porque querer
aquela jovenzinha solitária e antipática.
Passou-se uns minutos e entendeu o porquê de ele ter chegado mais cedo
e estar sorridente.
Uma garota que deveria ter mais ou menos a mesma idade que ele e
cabelos absurdamente vermelhos e algumas sardas pingadas nas bochechas de
criança apareceu e a pequenina reparou que ele tinha uma rosa nas costas e
olhava todo envergonhado para a garota dos cabelos de fogo.
Ela pegou o bilhete no bolso e o rasgou em milhões de pedacinhos fora
da vista de todos. Foi a uma lixeira distante de onde ele estava e jogou os
milhões de pedacinhos fora.
Era uma vez a coragem que houve ali por alguns instantes...
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