My little child
-- Vovó! -- a garotinha de 5 anos, vestida em um tutu de
ballet cor de rosa e verde água cutucou a avó até que esta se virasse -- Quando
mamãe vai vir?
-- Mamãe vem logo querida. – a idosa alisou os cabelos da
neta com um sorriso aparentemente feliz no rosto e continuou -- Se preocupe
apenas em dar o melhor de si hoje!
Mesmo com pouca idade, a garotinha de cabelos castanhos
escuros e olhos verdes, era constantemente elogiada por seus instrutores de
ballet como uma promessa para o esporte devido à sua disciplina, coordenação,
dedicação e precisão exemplares. Dançava maravilhosamente bem e com os anos que
se seguiriam em sua vida dançaria com extrema perfeição, podendo tornar-se uma
das melhores e seus avós tinham plena confiança e dedicavam o máximo de apoio o
possível para que aquela garotinha conseguisse tal feito.
Nascida bem, sua mãe se recusava à vê-la dançar. Achava
ballet uma coisa inútil e desprezível já que quando mais nova perdera uma
grande amiga para as neuroses que afetavam bailarinas: a pressão para ser
perfeita, pequena e magra e ainda havia os cigarros que lhe ocasionaram um
final de vida aos 22 anos anoréxica e com um sério câncer de pulmão. Logo após
isso, sua mãe nunca lhe dera votos o suficiente de confiança, ainda mais uma
criança que por mais potencial que tenha, ela não desejava de maneira nenhuma
ver sua preciosa filha definhar. O pai da garota trabalhava em Sidney enquanto
elas estavam ali em Nova York e por vídeo já havia visto e achava lindo que ela
se dedicasse tanto.
Aquela era a apresentação que faria com que a garotinha
avançasse para o próximo nível e reduzisse um pouco seu caminho até o momento
em que se tornasse uma bailarina profissional para dançar no Bolshoi. Sua mãe
admirava o sonho, mas por ter visto o que viu com sua grande amiga, perdera o
encanto no ballet, perdera a admiração que tinha pela ideia de que era uma boa
coisa deixa-la correr atrás deste sonho.
Mas uma coisa que nunca negaria era o fato de que a filha
dançava incrivelmente bem e tinha certeza absoluta disso desde o dia em que
chegou mais cedo para buscar a mesma na aula de dança e conseguiu vê-la dançar
por alguns minutos. Encantou-se com a fluidez e a delicadeza dos movimentos da
criança e teve certeza, como todos que ela tinha sido feita pra isso.
Agora, a garota estava na concentração com seu tutu
ansiosa com a expectativa de que sua mãe viesse lhe ver dançar uma versão mais
simples de Lago dos Cisnes que ela passara o semestre inteiro trabalhando para
que ficasse o mais perfeito o possível e agora ela queria que sua mãe visse e
que ficasse explodindo de orgulho de seu trabalho. Mas ela tinha medo de que a
mãe não fosse porque ela nunca fora em nenhuma das apresentações. Marcava
presença em alguns ensaios, mas nunca nas apresentações de fim de semestre que
eram as mais importantes.
As palmas das mãos suavam e agora era a hora que ela
entraria no palco, mas não poderia se distrair, era importante que ela
avançasse de nível e por isso precisaria estar concentrada em 100% para que
saísse com a fluidez que saía nas outras vezes... A avó lhe deu um casto beijo
da testa e a pequena sorriu, abraçando-a: era a hora de começar.
A criança dançava, movia-se, fluía, deslizava pelo palco
com as luzes e a música orquestrada tocando de maneira sincronizada. Tudo
perfeito e incrível, bem como deveria ser...
E no fundo, bem escondido, aonde as luzes nunca chegavam,
onde nunca seria iluminado por qualquer luz que se encontrava no enorme breu da
plateia, a mulher de meia idade estava com o enorme sobretudo vermelho
observando atentamente a apresentação da filha e maravilhando-se com o quão
talentosa a pequena era, tendo completo orgulho de onde a garota havia
conseguido chegar...
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